03 julho 2007

Do brilho dos holofotes à fumaça do underground - uma história não tão concisa do hard rock setentista


Assim como acontece com alguns acontecimentos históricos da humanidade, é difícil precisar a data ou o momento exato em que surge um determinado movimento artístico-cultural. Mais hora, menos hora, ele põe sua face no mundo e manifesta sua índole. A raíz do hard-rock está diretamente envolvida com o próprio desenvolvimento do rock em sua vertente mais rebelde, suja e transgressora - dos riffs blueseiros turbinados de Chuck Berry à insanidade dos gritos de Little Richard e a energia da performance de Jerry Lee Lewis ao piano. Nos anos 60, o som que duelava a preferência da juventude britânica (européia, por extensão) com os Beatles era mergulhado na lama do blues americano – Rolling Stones, Yardbirds, Animals, Kinks e The Who. Estes foram os precursores do hard que se desenvolveu a partir da segunda metade dos anos 60. Seu som era bem mais agressivo, ousado e chocante do que o som da maioria das bandas que embarcaram na Beatlemania....a fórmula era basicamente a mesma – injetar anfetamina no blues e rhytm n’ blues, acelerá-lo, distorcê-lo, estrangulá-lo, jogar quilos de microfonia e gritos deixando meninos e meninas estarrecidos e pais pra lá de preocupados...Nessa efervescência, acredito que o maior destaque foram os Yardbirds. Em príncipio, foram um dos maiores expoentes da geração dos puristas do blues, quando ainda contavam com Eric Clapton; depois, com Jeff Beck e Jimmy Page, começaram a expandir as fronteiras, inserindo peso e psicodelia naquela massa sonora. Além de tudo, foi o berço de 3 dos guitarristas mais influentes da história de todo o rock. Em 1966, surge um grande divisor de águas nessa história com a união de 3 músicos já tarimbados do cenário inglês – o Cream. Amplificando todas as fórmulas da moçada mais ousada da Inglaterra daqueles tempos, o Cream uniu virtuosismo, senso improvisador e liberdade de criação num caldeirão que deixou todo mundo bem chapado naqueles tempos. Acesso o pavil, explodiu outro fenômeno – um guitarrista norte-americano canhoto, auto-didata e bem doidão veio para a Inglaterra apadrinhado e formou a Jimi Hendrix Experience. Daí a coisa estorou mesmo – o som daqueles dias era ácido, pesado, experimental, virtuoso, inovador...Estava nascendo o hard-rock, um som calcado no blues, porém antropofagicamente transformado pela criatividade daquela geração que utilizou toda a tecnologia que se desenvolvia na época para fazer o som de suas bandas chegar mais longe. Nos EUA, eclodia também o movimento flower-power e o som psicodélico. Não parecia haver fronteiras para as combinações entre o novo som e o velho blues – quase todo mundo embarcou nessa viagem e quem não embarcou, ficou no limbo da história.A partir daí, entre 1967 e 1968, surgiram o Blue Cheer, (que levou a psicodelia aos extremos com sua estréia Vincepbus Eruptum), o Steppenwolf (com o hino do hard, Born to be Wild) o Ten Years After (e o prodigioso guitarrista Alvin Lee), Taste, Canned Heat, Savoy Brown, Jeff Beck Group, Led Zeppelin, MC5, Stooges (ampliando o som psicodélico das garagens norte-americanas) e vários outros nomes que foram cruzando a psicodelia e a inovação com o blues, tanto na sonoridade quanto nos temas. A partir de 1969, pode se dizer que o estilo já estava consolidado com diversos trabalhos de muito peso das citadas bandas e de outras como Leslie West Mountain, James Gang, Grand Funk Railroad, Edgar Broughton Band, Writing on the Wall, Groundhogs, Free, Cactus e muito etc por aí. O que fazia a cabeça da moçada na virada dos anos 60 para os 70 era o som pesado – e toda a situação do momento favorecia isso: Guerra do Vietnã, as manifestações estudantis, os golpes militares na América Latina, o assassinato de Martin Luther King, etc. O som parecia ser o pano de fundo para o todo aquele contexto conturbado, acrescido da desilusão com o ideal hippie e a alienação pelo uso de drogas.Com o advento dos anos 70, a coisa ficou progressivamente mais pesada, agregando novas influências – Black Sabbath e Deep Purple foram os grandes marcos do som da nova década e influenciaram uma gama imensa de jovens por todo o mundo. O nascente rock progressivo também foi influente numa fusão entre o som pesado e as novas sonoridades, coisa que aconteceu muito forte na Europa. Ao prosseguir da década, dezenas e dezenas de bandas surgiram e sumiram com velocidade de foguete no cenário, nos mais diversos países no mundo. O underground engoliu muitos jovens talentos que não tiveram a manha de lidar com o mainstream e nem tiveram um pingo de sorte com gravadoras e empresários. Por conta disso, bandas fantásticas e extremamente promissoras ficaram somente na estréia. A industrialização da música (e do rock consequentemente) avançou, capitalizando todo o movimento e direcionando-o por caminhos mais previsíveis no decorrer da década, especialmente visando competir com o punk-rock e a disco music, movimentos que deixaram o hard bem menor em termos de popularidade. Claro que houveram muitas honrosas bandas que não se deixaram levar pelos apelos escandolosos do mercado e mantiveram firmes seus princípios, se baseando no blues ou mesmo na busca de novos caminhos, caminhos esses que foram levando o hard até o heavy-metal, com a chamada “New Wave of British Heavy Metal”. Mas aí, já chegaram os anos 80. Melhor parar por aqui.

8 comentários:

Butão disse...

Muito boa essa "revisada" na história do Hardão. Pra quem tá chegando agora no mundo da sonzeira setentista, nada mais didático.
Abs

Anônimo disse...

Muito muito bom mesmo o texto.
E ano, 80, bem melhor parar por ali mesmo. Agora estou de volta a baixar discos! Finalmente. :)
ótimo blog. parabéns!

Anônimo disse...

o rock é demais e merece ser sempre relembrado e comentado parabéns
Renan
Russas-CE

johnny disse...

ouuu...bom pra caramba, to alucinado com tanta banda que fez e ainda continua fazendo o que eu realmente gosto...todo mundo sabe do que estou falando neh, intaum!!
johhny - BH - BRAZIL

Stoned_Louis disse...

Estava há algum tempo sem passar por aqui, mas pelo visto, o blog evoluiu muito nestes últimos tempos, realmente ótima resenha, mesmo para aqueles que já sabiam do básico da "história" do Hard Rock.

Parabéns Stepping Stone, ótima matéria!!

Unknown disse...

Texto bastante esclarecedor. Gostei de ler The Who como um dos precursores e Cactus mais na continuação inovando a história do rock setentista, valeuuuu!!!
Abração

Remus Silva disse...

Você fez bem em citar bandas que morreram na "clandestinidade", por que isso continuou a acontecer nos anos 80 por motivos modistas.
A diferença dos anos 70 é que o fator talento valia muito mais, e um musico podia até ter a sorte de ser encontrado por uma gravadora, mas no final só ficavam os que realmente sabiam fazer as coisas funcionarem. Para citar apenas dois sem quere menospresar ninguem lembraremos do Alice Cooper que nos seus shows as vezes terminavam com apenas tres pessoas na plateia, tamano era sua ousadia musical.
Styx, que adoro citar sempre que posso, não por que é minha banda preferida, mas o talento em mesclar o progressivo com Hard me deixa até hoje com a boca aberta doa as vezes que eu os ouço.
Tenho serteza absoluta que se fosse nos dias de hoje, estes e muitos outros que seguiram a mesma linha, não teriam passado do primeiro disco devido ao modismo e imediatismo que assola o mundo da musica atual.
O Hard setentista representa o Começo, meio e fim de uma geração preocupada em fazer boa musica mesclada a rebeldia daqules dias e a quebra de preconceitos da musica negra americana.
E isso se deve, graças aos Ingleses, que buscaram as raises da muica Americana, estudando-a aprimorando e devolvente ao seu pais de origem um produto de altissima qualidade.
Os americanos no meu ponto de vista só começaram a fazer um Hard de qualidade quando passaram a copiar e observar o que os seus "compatriotas" Europeus estavam fazendo.
Resumindo Tudo: Bons tempos, bons professores e boa música.

Anônimo disse...

Brilhante o seu ponto de vista, como falar de musica pesáda em meia duzia de linhas,compreendo que não se possa falar de tudo mas se se fala de hendrix, porque não falar de trower robin?, se se fala de cream porque não se fala de blind faith?(o 1º super groupo), se se fala de yardbirds porque não se fala de dos bluesbrakers(john mayal)engenharia para guitar heroes, o que digo não desvalorisa nada do que foi escrito, se escrevêmos algo, devemos escrever sobre tudo, ao risco de certas pessoas pensarem que é "pago"por aqueles do qual disse muito boas coisas.Está de parabems o seu blog é 5* e se existisse 6 eu punha.